Eduardo Cavalieri
O mineiro Eduardo Cavalieri, 27 anos, sempre cultivou duas paixões: máquinas motorizadas e velocidade. A expressão máxima dessa atração ele encontrou no avião e em tudo o que diz respeito à aviação. Mais interessante ainda é lembrar de quando esse fascínio ficou evidente: quando tinha 13 anos, ele leu, no guia de carreiras da irmã, sobre o curso de Ciências Aeronáuticas. A epifania veio quando ele se imaginou dentro da fotografia de cabine que estava no livro. A partir daí, não teve dúvidas. “Não sei se o guia ajudou minha irmã, mas, a mim, com certeza”, ele lembra. Em 2009, formou-se no mesmo curso que sonhou de pequeno. Estudou para ser piloto e somou horas de voo, mas não o suficiente para se tornar um piloto comercial.
Acontece que, por vários motivos, ele acabou largando a carreira para investir em outro curso, que não foge totalmente do propósito original. Depois de passar pela empresa ALGAR Aviation, que vende serviços de táxi aéreo e manutenção para aeronaves executivas, Eduardo ingressou, em 2009, na companhia TRIP. “Foi um período muito proveitoso, tive a oportunidade de acompanhar diversos setores, especialmente os mais técnicos”, ele conta. Foi então que resolveu iniciar o curso de Logística.
Já em 2012, quando a companhia se juntou à Azul, ele passou a trabalhar exatamente com esta área, logística, com foco no planejamento de materiais aeronáuticos, onde está até hoje. “O setor é responsável por manter uma quantidade mínima de peças distribuídas nos aeroportos principais onde a Azul opera”, ele explica. “Somos responsáveis também por movimentar diariamente peças para atender as manutenções que acontecem diariamente nas aeronaves durante o pernoite”.
Confira abaixo a entrevista.
Para você, quais os principais desafios de um piloto?
Desafio do piloto comercial é compor uma “orquestra” que faz todo processo funcionar. Junto a equipe de check-in, despacho, manutenção e handling (que é a equipe ou equipamento de solo que prestam apoio ao avião, desde a hora do desembarque até a decolagem). Todos compõem a “orquestra” e o objetivo é fazer o voo acontecer no horário, em segurança e atendendo a expectativa do passageiro.
Desafio enfrentado por todos pilotos, especialmente os brasileiros, é conviver com a infraestrutura deficiente do nosso país. Aeroportos pequenos, falta de slot (vagas para pousos e decolagens), pistas esburacadas, animais na pista (sim, estes problemas existem) e equipamentos de auxílio a navegação deficientes ou inoperantes. Cito “apenas” estes problemas para ser breve, pois temos vários outros.
Outro desafio do piloto é ser reciclado constantemente. Dentro da cabine, de uma forma geral, a rotina é repetitiva. Isso pode levar a situações de perigo pela falsa sensação de segurança que a mesma causa. Os treinamentos são essenciais neste aspecto.
Quais os aeroportos do Brasil e do mundo são uma referência/um modelo para você?
Infelizmente, pra mim, nenhum aeroporto no Brasil é referência. Temos grandes obras acontecendo nos principais e espero que passem a ser referência, mas hoje todos estão aquém da demanda. Já no mundo, posso citar alguns.
Já que minha área de atuação é logística, a maior referência neste aspecto é o aeroporto Chek Lap Kok em Hong Kong. Ele é o maior do mundo em movimentação de carga. São 3 milhões de toneladas por ano. É um aeroporto novo e que foi construído justamente pra atender a demanda alta da região, que estava sendo atendido por um aeroporto que já não comportava. Mesmo para passageiros, o aeroporto de Hong Kong não deixa a desejar. Passaram por ele quase 57 milhões de passageiros em 2012.
Entre os aeroportos que conheço, destaco alguns. Zurich, que tem amplas instalações e boas pistas. Aeroporto de São Francisco, que possui uma disposição de pistas que permite operações de pouso e decolagem simultâneas, além dos amplos terminais. Aeroporto de Detroit, onde o terminal principal possui 1,6 quilômetro de comprimento e dentro do terminal corre um tram, facilitando o deslocamento do passageiro. Todos estes que cito, além da estrutura aeroportuária, tanto no lado terra quando no lado ar, o destaque vai também para os acessos, como trem, metrô ou ônibus.
O aeroporto que mais considero como referência, apesar de não conhecer, é o Changi Airport na Singapura. Foi eleito quatro vezes o melhor aeroporto do mundo pela Skytrax, empresa de consultoria voltada para aviação. O aeroporto dispõe de 3 pistas sendo uma delas exclusiva para uso militar, 3 terminais de passageiros e mais 2 em construção, 25 km de taxiway, 156 pontes de embarque e 69 posições remotas. O aeroporto possui capacidade de movimentar 66 milhões de passageiros por ano e em 2013 movimentou quase 54 milhões. É realmente um belo aeroporto, com belos terminais e que possui um planejamento de expansão bastante agressivo.
Para você, qual seria a prioridade para melhorar o serviço aéreo no Brasil?
Hoje tudo tem que ser melhorado. Nossos aeroportos estão totalmente defasados. A demanda pelo serviço aumentou bruscamente, as companhias aéreas se adequaram a esta demanda, mas a infraestrutura está parada há vários anos.
Entre as prioridades, em primeiros lugar considero os terminais. Os principais aeroportos do Brasil já operam acima da capacidade máxima. As consequências tem efeito em cascata, afetando o cliente e o prestador de serviço. Longas filas, banheiros sujos e pequenos, falta de posição no patio de aeronaves, falta de ônibus para atender aeronaves em posições remotas, terminais pequenos e pouco eficientes e pistas de taxiway (toda área asfaltada no aeroporto, exceto a pista de pouso e decolagem, que se chama runway) que não oferecem agilidade no trânsito das aeronaves.
Em segundo lugar, os acessos aos aeroportos. Hoje, praticamente a única forma é através de ruas e estradas. A maioria dos aeroportos não dispõem de um serviço de transporte eficiente e de massa, como trens ou metrôs. A forma mais rápida e que a maioria dos usuários optam é por carro ou ônibus, pouco eficientes e prejudiciais ao tráfego das cidades. Além disso, permitir uma melhor integração entre os modais, pensando na logística de cargas, já que esta também é uma área que vem apresentando crescimento expressivo.
Em terceiro lugar, um melhor planejamento para futuras expansões. Hoje, os terminais que estão passando por grandes obras, estão adequando a infraestrutura para atender praticamente só a demanda atual. É necessário já planejar intervenções para atender demanda futura, pensando no crescimento do país, da indústria e da demanda dos passageiros.
Quais as novidades que a Azul está preparando para a Copa?
Hoje já temos dois Embraer pintados de amarelo que foram batizados de Brasileiríssimo e Canarinho Azul. Pintura que foge do padrão da Azul, mas faz uma homenagem às cores da seleção brasileira.
A malha aérea que vai suportar este período já está traçada. Serão 422 voos extras e algumas alterações na malha, já que a ANAC está impondo algumas restrições operacionais em vários aeroportos de cidades que serão sede de jogos, visando a segurança e alteração também, pois neste período a demanda do mercado business será bem menor. A tripulação será reforçada nas cidade sede, inclusive com comissárias(os) bilíngues.
Em agosto de 2009, a Azul bateu record mundial ao atingir a marca de 1 milhão de pessoas transportadas no menor tempo – menos de um ano. E o prêmio de Melhor Companhia Aérea pela Viagem e Turismo por dois anos consecutivos.
Na sua opinião, qual é o diferencial da Azul?
Não querendo puxar sardinha pra empresa que trabalho, mas hoje considero a Azul a melhor companhia aérea do Brasil. Outra que oferece um serviço muito bom, é a Avianca, mas acaba ficando pra trás porque não possui uma malha tão abrangente quanto a Azul. Portanto, já considerando este como um primeiro diferencial da Azul: a quantidade de destinos. Outros pontos positivos são as aeronaves novas, menores em relação aos concorrentes, mais confortáveis, principalmente porque não possuem o assento do meio e mais espaço par as pernas. O atendimento e os lanches oferecidos a bordo costumam agradar a todos. E para conseguir esse recorde, além de todos diferenciais que citei, acredito que o marketing teve seu peso nesse sentido, pois isso sempre foi muito agressivo na Azul.
Qual a situação mais desafiadora que já passou até hoje?
O desafio é diário. Nossos estoques ficam em Belo Horizonte e em Campinas. Destes dois, temos que enviar peças para outros 47 aeroportos diariamente, para suportar a manutenção que ocorre no período noturno, quando a demanda por voos é baixa e então as aeronaves ficam paradas por um período mais longo. Nesta ocasião a equipe de manutenção aproveita para cumprir intervenções programadas e corretivas nos aviões. Entre estes 47 aeroportos, temos extremos como Manaus e Porto Alegre, Rio Branco e Natal, Belém e Foz do Iguaçu. A logística destes materiais é complexa e exige muita sincronia entre todos envolvidos. Em muitas situações, a falta da peça no local desejado, pode ocasionar atraso ou até cancelamento de voo no dia seguinte, situação indesejada por todos.
Se você tivesse que lançar um projeto relacionado à aviação, o que faria?
Algumas peças de avião não possuem vida útil, ou seja, se bem mantidas, podem durar a vida toda. Peças que possuem esta característica, na aviação são chamadas de rotables. Porém, caso um rotable apresente algum defeito e o reparo dela seja muito caro, superando seu valor, esta peça é descartada. Para esses casos, a regulamentação exige que o rotable deve ser descartado totalmente destruído, para evitar a sua reutilização na aviação, seja de forma acidental, seja por forma não idônea. Infelizmente estes descartes nem sempre acontecem de forma adequada. Um projeto nesta área seria interessante, focando em descartes de peças aeronáuticas, buscando aproveitar ao máximo os materiais, mas sem burlar a regulamentação.
Por Giovanna Rossin
